São inúmeras
as críticas dirigidas a Freud e à sua teoria.
Um conceito
de ser humano dominado por pulsões, bem como a afirmação de uma sexualidade
infantil provocaram, durante a vida e depois da morte de Sigmund Freud, as mais
vivas críticas, escandalizando os meios mais moralistas.
Em primeiro
lugar, encontramos limitações relacionadas com o seu método de coleta de dados.
Freud apoiava as suas descobertas e consequentes conclusões nas respostas
verbais que os seus pacientes manifestavam quando submetidos a análise, a que
não pode ser concebido o rigor que seria necessário. Por tal, as condições em
que Freud recolheu os seus dados são consideradas assistemáticas e não
controladas devido à não efetuação de uma transcrição textual das palavras
proferidas pelos pacientes. Ele utilizava um conjunto de anotações que eram
efetuadas horas após a sessão com o paciente, o que levaria, certamente, à
perda de dados originais, que seriam as palavras exatas dos pacientes, em
virtude de eventuais lapsos de memória ou mesmo a possibilidade de omissão e
distorção, mesmo que inconsciente e involuntária, dos dados
"verdadeiros".
E, aliada a
esta falha, está a reinterpretação dos factos, na medida em que a recordação
das palavras dos pacientes poderá não refletir os dados de forma correta, pois
estes estariam sujeitos à extração de inferências por parte do investigador, no
intuito de encontrar material que sustentasse as suas hipóteses, levando apenas
ao registo daquilo que poderá parecer mais oportuno e relevante.
Os dados
registados por Freud consistiam, assim, em lembranças e interpretações dos
factos ocorridos o que é, obviamente, uma limitação à sua teoria.
Outra
incoerência é encontrada nas diferenças verificadas entre as anotações de Freud
referentes às sessões terapêuticas e as suas publicações, que teriam por base
as referidas anotações, o que vem provar uma deturpação dos factos. Nestas
diferenças encontra-se um alongamento do período de análise; uma versão
incorreta da sequência de eventos revelada pelo paciente durante a análise e a
afirmação, não fundamentada, da cura do paciente. Não é possível determinar se
estas distorções resultaram de uma forma deliberada, a fim de reforçar a sua
posição ou, pelo contrário, foram produto do inconsciente de Freud. É
igualmente impossível determinar se erros da mesma natureza influenciaram
outros estudos de caso, devido à destruição de grande parte dos arquivos dos
pacientes.
Uma outra
deficiência diz respeito às poucas tentativas no intuito de verificar a
validade dos relatos das experiências infantis dos seus pacientes, nomeadamente
inquirindo familiares e amigos relativamente aos eventos descritos, não sendo
assim possível a determinação da validade dos relatos dos pacientes.
Por tudo
isto, a coleta de dados, que constitui a primeira etapa de toda a teoria de
Freud, é considerada incompleta, imperfeita e imprecisa.
Quanto à
segunda etapa, que seria a efetuação de inferências e generalizações a partir
dos dados obtidos, nunca foi explicada por Freud, desconhecendo-se assim o
ocorrido, mesmo porque os seus dados não são suscetíveis de quantificações e,
por tal, torna-se impossível a determinação da confiabilidade ou significação
estatística.
A linguagem
usada por Freud é também alvo de críticas, sendo considerada imprecisa e, por
vezes, ambígua, ou seja, não utilizava uma linguagem clara, tão característica
do método experimental.
Uma outra
crítica é referente à dificuldade de extrair proposições testáveis
empiricamente das suas diversas hipóteses pois, como seria possível o estudo
laboratorial do desejo de morte? No entanto, após a morte de Sigmund Freud, em
1939, muitos dos seus conceitos foram submetidos a testes experimentais, a fim
de examinar a credibilidade científica de algumas das suas formulações, embora
as histórias de caso, que constituíam o principal método de pesquisa da
literatura psicanalítica, não poderem ser incluídas, pois os pesquisadores só
aceitaram os dados que foram obtidos por intermédio de procedimentos possíveis
de repetição e que envolvessem técnicas que permitissem a verificação da
objetividade do observador. Assim, conceitos freudianos mais amplos como id,
ego, e superego, libido, ansiedade, desejo de morte, entre outros, resistiram a
tentativas de validação científica. São mesmo alguns freudianos que concordam
perante afirmações acerca das contradições verificadas na teoria de Freud e à
obscuridade na definição de conceitos da mesma natureza. O próprio Freud
reconheceu tal obscuridade e ele próprio refere, nos seus últimos escritos, as
dificuldades de definição de certas ideias.
Freud
defendeu que as mulheres possuem superegos sofrivelmente desenvolvidos e se
sentiam inferiores pelo seu corpo ser desprovido de pénis, ideia esta que é
fortemente contestada por inúmeros psicólogos. Atualmente, acredita-se que a
teoria freudiana, relativamente ao desenvolvimento psicossexual feminino, se
encontra incorreta.
A
insistência sobre o impulso sexual foi mais uma das razões por que a teoria
freudiana encontrou tanta oposição, especialmente durante a vida do seu autor,
altura em que a discussão franca sobre a sexualidade era muito mais
desaprovada. Não é assim de admirar que a teoria freudiana fosse criticada sob
o pretexto de que o seu autor devia ter um interesse patológico pelo sexo, para
o considerar uma força assim tão dominante no comportamento humano. No entanto,
esta acusação é injusta, pois Freud foi levado a insistir no sexo porque muitos
dos seus pacientes sofriam de perturbações sexuais. Alguns teóricos romperam
com Freud, alegando que este acentuava demasiadamente as forças biológicas,
especialmente o sexo, como forças primárias da personalidade, pois eles
consideravam que a personalidade está mais influenciada por forças sociais.
Freud foi
também criticado por ter desenvolvido uma teoria da personalidade baseada
apenas em observações de neuróticos, ignorando os indivíduos considerados
saudáveis.
Apesar de todas estas contradições e
limitações da teoria freudiana, é incontestável a contribuição que ele trouxe
para o mundo da psicanálise.
Ângelo Ribeiro nº4