segunda-feira, 3 de abril de 2017

Críticas à Psicanálise de Freud

         


          São inúmeras as críticas dirigidas a Freud e à sua teoria.
          Um conceito de ser humano dominado por pulsões, bem como a afirmação de uma sexualidade infantil provocaram, durante a vida e depois da morte de Sigmund Freud, as mais vivas críticas, escandalizando os meios mais moralistas.
          Em primeiro lugar, encontramos limitações relacionadas com o seu método de coleta de dados. Freud apoiava as suas descobertas e consequentes conclusões nas respostas verbais que os seus pacientes manifestavam quando submetidos a análise, a que não pode ser concebido o rigor que seria necessário. Por tal, as condições em que Freud recolheu os seus dados são consideradas assistemáticas e não controladas devido à não efetuação de uma transcrição textual das palavras proferidas pelos pacientes. Ele utilizava um conjunto de anotações que eram efetuadas horas após a sessão com o paciente, o que levaria, certamente, à perda de dados originais, que seriam as palavras exatas dos pacientes, em virtude de eventuais lapsos de memória ou mesmo a possibilidade de omissão e distorção, mesmo que inconsciente e involuntária, dos dados "verdadeiros".
           E, aliada a esta falha, está a reinterpretação dos factos, na medida em que a recordação das palavras dos pacientes poderá não refletir os dados de forma correta, pois estes estariam sujeitos à extração de inferências por parte do investigador, no intuito de encontrar material que sustentasse as suas hipóteses, levando apenas ao registo daquilo que poderá parecer mais oportuno e relevante.
          Os dados registados por Freud consistiam, assim, em lembranças e interpretações dos factos ocorridos o que é, obviamente, uma limitação à sua teoria.
Outra incoerência é encontrada nas diferenças verificadas entre as anotações de Freud referentes às sessões terapêuticas e as suas publicações, que teriam por base as referidas anotações, o que vem provar uma deturpação dos factos. Nestas diferenças encontra-se um alongamento do período de análise; uma versão incorreta da sequência de eventos revelada pelo paciente durante a análise e a afirmação, não fundamentada, da cura do paciente. Não é possível determinar se estas distorções resultaram de uma forma deliberada, a fim de reforçar a sua posição ou, pelo contrário, foram produto do inconsciente de Freud. É igualmente impossível determinar se erros da mesma natureza influenciaram outros estudos de caso, devido à destruição de grande parte dos arquivos dos pacientes.
         Uma outra deficiência diz respeito às poucas tentativas no intuito de verificar a validade dos relatos das experiências infantis dos seus pacientes, nomeadamente inquirindo familiares e amigos relativamente aos eventos descritos, não sendo assim possível a determinação da validade dos relatos dos pacientes.
         Por tudo isto, a coleta de dados, que constitui a primeira etapa de toda a teoria de Freud, é considerada incompleta, imperfeita e imprecisa.
Quanto à segunda etapa, que seria a efetuação de inferências e generalizações a partir dos dados obtidos, nunca foi explicada por Freud, desconhecendo-se assim o ocorrido, mesmo porque os seus dados não são suscetíveis de quantificações e, por tal, torna-se impossível a determinação da confiabilidade ou significação estatística.
          A linguagem usada por Freud é também alvo de críticas, sendo considerada imprecisa e, por vezes, ambígua, ou seja, não utilizava uma linguagem clara, tão característica do método experimental.
          Uma outra crítica é referente à dificuldade de extrair proposições testáveis empiricamente das suas diversas hipóteses pois, como seria possível o estudo laboratorial do desejo de morte? No entanto, após a morte de Sigmund Freud, em 1939, muitos dos seus conceitos foram submetidos a testes experimentais, a fim de examinar a credibilidade científica de algumas das suas formulações, embora as histórias de caso, que constituíam o principal método de pesquisa da literatura psicanalítica, não poderem ser incluídas, pois os pesquisadores só aceitaram os dados que foram obtidos por intermédio de procedimentos possíveis de repetição e que envolvessem técnicas que permitissem a verificação da objetividade do observador. Assim, conceitos freudianos mais amplos como id, ego, e superego, libido, ansiedade, desejo de morte, entre outros, resistiram a tentativas de validação científica. São mesmo alguns freudianos que concordam perante afirmações acerca das contradições verificadas na teoria de Freud e à obscuridade na definição de conceitos da mesma natureza. O próprio Freud reconheceu tal obscuridade e ele próprio refere, nos seus últimos escritos, as dificuldades de definição de certas ideias.
           Freud defendeu que as mulheres possuem superegos sofrivelmente desenvolvidos e se sentiam inferiores pelo seu corpo ser desprovido de pénis, ideia esta que é fortemente contestada por inúmeros psicólogos. Atualmente, acredita-se que a teoria freudiana, relativamente ao desenvolvimento psicossexual feminino, se encontra incorreta.
            A insistência sobre o impulso sexual foi mais uma das razões por que a teoria freudiana encontrou tanta oposição, especialmente durante a vida do seu autor, altura em que a discussão franca sobre a sexualidade era muito mais desaprovada. Não é assim de admirar que a teoria freudiana fosse criticada sob o pretexto de que o seu autor devia ter um interesse patológico pelo sexo, para o considerar uma força assim tão dominante no comportamento humano. No entanto, esta acusação é injusta, pois Freud foi levado a insistir no sexo porque muitos dos seus pacientes sofriam de perturbações sexuais. Alguns teóricos romperam com Freud, alegando que este acentuava demasiadamente as forças biológicas, especialmente o sexo, como forças primárias da personalidade, pois eles consideravam que a personalidade está mais influenciada por forças sociais.
            Freud foi também criticado por ter desenvolvido uma teoria da personalidade baseada apenas em observações de neuróticos, ignorando os indivíduos considerados saudáveis.
            Apesar de todas estas contradições e limitações da teoria freudiana, é incontestável a contribuição que ele trouxe para o mundo da psicanálise.


Ângelo Ribeiro nº4

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