Kurt Cobain – Montage of Heck é talvez o documentário sobre música mais esperado nos últimos anos, abre com
comentários de mãe e irmã do vocalista do Nirvana falando o quanto o cantor
pensava a todo momento. Somos despejados no início de um show da banda onde
Kurt entra de cadeira de rodas, peruca e faz uma performance cómica e
divertida, fazendo uma sátira a celebridades da música em seus últimos momentos
de vida. Aclamado pelo público, o vocalista encena um desmaio e, logo em
seguida, o documentário nos joga na potência máxima de Territorial Pissing.
O documentário da vida de Kurt
Cobain feito por Brett Morgen, organizado/exibido pela HBO e produzido pela
filha, France Cobain, embarca profundamente no mundo do artista. Um trabalho de
8 anos, onde Brett teve acesso a todos os arquivos da família de Kurt, uma
enorme quantidade de áudios, vídeos caseiros, cadernos, anotações, desenhos e
entrevistas para chegar a um objetivo: desvendar a mente do artista que revolucionou
o rock na década de 90.
O início do longa nos mostra
vídeos caseiros de um pequeno menino loiro, fofo e bastante brincalhão. Junto
de depoimentos de sua mãe, pai e madrasta, um pouco depois somos apresentados
ao momento crucial de definição da personalidade de Kurt: o divórcio de seus
pais. É nesse momento que vemos crescer seu instinto punk, sua rebeldia e seu
amor pela música.
Com certeza Brett tinha muita
coisa a mostrar e soube utilizar esse material de diferentes maneiras.
Excelentes animações são realizadas aproveitando o áudio de histórias contadas
por Kurt, servindo como uma boa encenação do que escutamos na voz do artista.
Presente a todo momento, as anotações, rabiscos e desenhos feitos pelo cantor
nos levam a sua mente pertubada, onde podemos ter uma dimensão da loucura que
era a mente do artista. Loucura essa que se intensifica no momento que marca a
entrada de Courtney Love – sua esposa – em sua vida. É impressionante ver que
Courtney não se importou em compartilhar toda a intimidade do casal e o nível
extremo de drogas utilizado por eles, inclusive em seu período de gravidez (o
que gerou uma enorme polêmica). Nesse momento é nítido também os caminhos que
Kurt já começava a trilhar para seu triste fim, e se muitos fãs culpam sua
morte devido a entrada de Courtney em sua vida, essa opinião não vai mudar após
o documentário.
Ainda que haja excelentes
entrevistas com pai, mãe, irmã, ex-namorada, esposa e o amigo e baixista do
Nirvana, Krist Novoselik, ainda parece faltar algo entre os depoimentos. Parte
disso é devido ao claro foco de Brett na imensidão de arquivos pessoais
relacionados a Kurt. Mas isso não justifica, por exemplo, a ausência de uma
entrevista com Dave Growl, a qual a justificativa oficial de Brett (dizendo que
a entrevista foi tardia e não conseguiu entrar na edição) parece bem fraca
visto os 8 anos de desenvolvimento do filme. E sabendo que Courtney Love – que
teve alguma voz na produção do
documentário – possui um relacionamento péssimo com o líder do Foo Fighters,
isso soa ainda mais estranho.
No fim tudo termina com aquela
notícia fatídica: No dia 5 de abril de 1994, Kurt Cobain se suicidou. O
documentário deixa uma impressão bastante forte e sólida sobre Kurt.
Desmistifica qualquer áurea de gênio que existe sobre ele, viaja pela mente pertubada de Kurt e mostra o ser humano falho que ele era, mas que tinha um ponto
importante: amava a música. No fim, o menino brincalhão dos vídeos caseiros
parece ser o mesmo adulto brincalhão com a filha ou o piadista ao dar
entrevistas.
Ângelo Ribeiro nº4
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